quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ASSEMBLEIA ELETIVA DA FAMÍLIA FRANCISCANA DE ALAGOAS



Acontecerá nos dias 01 e 02 de dezembro, a Assembleia Eletiva da Família Franciscana de Alagoas do para o triênio 2012-2015. A Assembleia ocorrerá na Casa da Fraternidade  Sagrado Coração de Jesus e contará com a presença da Ir. Silma (Franciscana do Amparo) representante do Nacional da FFB. O tema norteador da Assembleia será: A PAZ, a reflexão será conduzida pela Ir. Águeda (Clarissa Franciscana). São convidados todos os franciscanos e jufristas presentes em Alagoas. Rezemos pelo êxito desse importante momento na caminhada de nossa Família Franciscana! 
01 e 02 de dezembro de 2012 acontecerá em Recife a 2ª reunião do Conselho Regional da OFS PE/AL, nessa reunião será eleito o novo Tesoureiro Regional, em substituição ao nosso irmão Fernando Sales, por ocasião de seu falecimento. Rezemos para que o Senhor ilumine a todos os Conselheiros bem como a Ministra e o seu Vice, na condução do nosso Regional.
BEM VINDOS AO BLOG AMADOS!

“É difícil separar os nomes de Francisco e Clara. É algo profundo, algo que não pode ser entendido a não ser com critérios de espiritualidade franciscana, cristã, evangélica; não podemos entendê-lo com critérios humanos. O binômio Francisco-Clara é uma realidade que só se entende com categorias cristãs, espirituais, do céu.” (João Paulo II – 12 de março de 1982).


“Depois que o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado pai Francisco, pouco depois de sua conversão, com algumas Irmãs que Deus me dera logo após a minha conversão, eu lhe prometi obediência voluntariamente, como o Senhor nos concedera pela luz de sua graça através da vida admirável e do ensinamento dele”. (Testamento de Clara 24.25)

Francisco e Clara olharam na mesma direção. E sabe qual foi a "direção"? Clara e Francisco eram como olhos que olham sempre na mesma direção. Assim foi para Clara e Francisco. Contemplar o mesmo Deus, o mesmo Senhor Jesus, o mesmo Crucificado, a mesma Eucaristia a mesma Mãe de Deus!










Sua pregação, exemplo e alegria

Os testemunhos de época relatam que seu estilo de pregação era direto e simples, usando o vernáculo, longe da eloquência sacra de seu tempo, mas afirmam que sua sinceridade e compreensão das dificuldades da vida popular, sua habilidade em evocar imagens ilustrativas vivazes em pequenas parábolas ou histórias retiradas de suas experiências do cotidiano entre o povo, e sua capacidade de apresentar a doutrina cristã de forma inteligível, faziam que seu discurso tivesse um efeito persuasivo profundo. 


Também fazia uso do humor e de uma atuação que tinha muito de teatral, a fim de que a mensagem se fizesse mais acessível e atraente, e usualmente solicitava permissão da autoridade religiosa local para iniciar sua fala ao povo. 



Às vezes acompanhava a pregação com o canto de hinos sacros, alguns compostos em letra e música por ele mesmo, e chamava a si e seus irmãos de "os menestréis de Deus".


Sua paciência e bondade para com todos fizeram com que fosse procurado constantemente por pessoas de todas as posições sociais que iam a ele em busca de conselho e orientação, e a todos instruía na melhor forma de alcançar a salvação na condição em que se encontravam, regozijando-se em ver que suas palavras amiúde davam frutos positivos e que os costumes se iam reformando gradualmente. 

No florido estilo de sua Vita prima Celano afirma que em virtude de sua presença e atuação em pouco tempo toda a Úmbria se havia transformado, e se tornara um lugar mais aprazível.



 Francisco desejava acima de tudo que os irmãos pregassem através do exemplo pessoal, conseguido na imitação do exemplo de Cristo, e o modelo monástico que ele implementou representa uma transição entre o monasticismo medieval enclausurado e as novas formas de vida apostólica que mais tarde se consolidaram, mais abertas para o mundo exterior e mais dedicadas ao serviço prático para com os necessitados, e fez essa reforma sem jamais ter pretendido ser um reformador.


Outra de suas contribuições foi a de enfatizar a paz, a tolerância, o respeito e a concórdia, e ele sempre teve a convicção de que os irmãos deviam ser pacificadores, o que deixou expresso em vários escritos e foi repetido por seus biógrafos. 

Mesmo nas missões que enviou para entre os muçulmanos fez recomendações para que os missionários mantivessem uma postura de respeito para com as manifestações da divindade em todos os credos e de sujeição às leis civis locais, e que evitassem se envolver em disputas teológicas. 

Ele pessoalmente conseguiu a paz em vários conflitos internos nas cidades italianas de Arezzo, Peruggia, Siena, Gubbio e Bolonha, e pouco antes de morrer, já gravemente enfermo, fez a paz entre o bispo e o poder civil em Assis, o que não deixa de ter conotações simbólicas, apontando para seu perene desejo de reconciliação entre a religião e o mundo profano.
Como Cristo recomendara a seus apóstolos que em cada casa em que entrassem dissessem "Que a paz do Senhor esteja nesta casa", usualmente Francisco costumava iniciar e terminar suas prédicas com a proclamação da paz.



A seus próprios seguidores, Francisco dissera: "Assim como anunciais a paz pela boca, estejais certos de que a paz esteja em vossos corações". 
A saudação Pax et bonum (Paz e bem), que usava frequentemente, se tornou mais tarde o lema da sua Ordem e também da cidade de Assis.



 Em 2002 o papa João Paulo II presidiu uma cerimônia em Assis que reuniu duzentos líderes de vinte e quatro religiões para que fosse celebrado um Dia Internacional de Preces para a Paz no Mundo. 


Foi elaborado o documento O Decálogo da Paz de Assis e enviado para todos os Chefes de Estado do mundo, e no encerramento da cerimônia todos trocaram o beijo da paz enquanto era cantado o Cântico ao irmão Sol.


Senhor, nós te agradecemos, porque fizeste brilhar teu amor de Pai, em Francisco e Clara de Assis. Te pedimos que nos faça cada dia mais humildes, e pobres, entregues ao teu serviço, como eles. Que saibamos reconhecer Jesus nos irmãos e irmãs, anunciando-lhes teu Evangelho. Que te encontremos na alegria e na dor, na saúde e na enfermidade, na irmã chuva e no irmão sol, na criação inteira, assumida com júbilo e ação de graças. Que o projeto de vida e o espírito de Francisco e Clara nos ajude a realizar teu reino de liberdade e justiça onde não há egoísmo, orgulho, ódio ou violência. Derrama, Senhor, teu Espírito, para que te sigamos, sejamos testemunhas do teu Evangelho e servidores do teu Reino. Amém!

Perfeita alegria segundo São Francisco de Assis



Vindo uma vez S. Francisco de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo do inverno, e o grandíssimo frio fortemente o atormentasse, frei Leão perguntou-lhe:

‒ Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria.

E São Francisco assim lhe respondeu:

“‒ Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser:

“‒ Quem são vocês?

“E nós dissermos:

“‒ Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser:

“‒ Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; fora daqui!



“E não nos abrir e deixar-nos estar ao tempo, à neve e à chuva, com frio e fome até à noite: então, se suportarmos tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra ele (...) escreve que nisso está a perfeita alegria.
“E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio e pela noite batermos mais e chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que nos abra a porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser:

“‒ Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem.

“E sair com um bastão nodoso e nos agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater com o pau de nó em nó:

“Se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor:

“Ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão.

“Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e voluntariamente pelo amor suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos”.

(Fonte: “Fioretti de São Francisco”, excerto)



Francisco é feliz e cantando segue o Cristo pobre e humilde. A Boa Nova tocou profundamente a alma sensível de Clara, que sentiu no seu interior vibrar acordes uníssonos aos de Francisco. Era então preciso se encontrar com ele. Precisava saber que dentro de Clara, a chama do novo ideal de vida evangélica estava latente. Foi o início da amizade indestrutível, cujo elo era o amor mais puro e genuíno a Jesus Cristo.

A descoberta da pobreza como valor evangélico, como libertação interior, como imitação de Cristo Pobre encontrou o coração de Francisco e Clara. Eles quiseram ser pobres e viram na pobreza a condição para o seguimento do mestre que diz: "Vá vende tudo o que tens, dá aos pobres e siga-me". Santa Clara seguiu a risca seu amigo Francisco. A grande luta de sua vida foi ser fiel à pobreza escolhida.


Santa Clara, mulher de fé, possuía um poder maravilhoso que arrancava de Deus os maiores prodígios. Esses favores extraordinários nunca eram para si, mas, para ir em socorro daqueles que padeciam necessidade e enfermidade. Orava, fazia o sinal da cruz e o milagre acontecia. Multiplicou pães, curou doentes das mais diversas enfermidades. Adivinhou secretos sofrimentos e tribulações que outros padeciam, foi uma benção de Deus para todos que a conheceram. Ainda hoje, Clara continua sua missão ao lado dos atribulado

O ASSISTENTE ESPIRITUAL DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR: FORMADOR DA FRATERNIDADE E DOS IRMÃOS
Por Frei Almir R. Guimarães, OFM

A assistência espiritual tem por objectivo favorecer a comunhão com a Igreja e com a Família 
Franciscana através do testemunho e partilha da espiritualidade franciscana, cooperar na 
formação inicial e permanente dos franciscanos seculares e manifestar o afecto dos frades à OFS
(Estatuto para a Assistência 2, 3).
1. Os franciscanos seculares gozam do direito de terem, nas suas Fraternidades, a presença do 
Assistente Espiritual que, juntamente com a equipa de formação, oferece a sua colaboração 
indispensável e de qualidade na tarefa formativa dos irmãos. Não é ele o último responsável pela 
formação. Esta repousa sobre o conselho local e a equipa, por este organizada. Falar em 
formação é tocar num assunto complexo e intrincado. Formar alguém para ser cristão e para a 
vida franciscana é tarefa que não dá descanso. Estamos sempre em processo de formação.
Nunca podemos descansar. A experiência diz-nos que uma das maiores dificuldades da OFS é,
entre nós, a de realizar  a formação sólida dos irmãos e das irmãs, de sorte que sejam leigos 
maduros, buscadores de santidade, capazes de construir a sua identidade franciscana ao longo 
do tempo e serem “restauradores” da Igreja. As poucas observações que aqui fazemos podem 
ser aplicadas à formação em geral,  bem como à que, mais particularmente, dá o Assistente.
Neste texto são apresentadas as  perspectivas da formação inicial juntamente com as da 
formação permanente.
2. A Regra da OFS diz-nos: na Fraternidade "os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito para atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, empenham-se, pela profissão, a viver o Evangelho à maneira de Francisco e mediante a Regra" (cf. Regra 2). O número 1 da Regra fala dos franciscanos como aqueles “que se sentem chamados ao seguimento do Cristo, à maneira de São Francisco de Assis”. Esse é objetivo da OFS. Ressaltemos, aqui, alguns elementos: seguimento de Cristo, fraternidade com irmãos e irmãs, busca da santidade, vivência do Evangelho no estado secular mediante a Regra, ir pelo mundo em missão. Nessas poucas linhas aparecem alguns dos conteúdos da formação franciscana dos seculares.
3. Não podemos deixar de frisar que, como dizem os nossos documentos, a primeira formadora é a 
Fraternidade, ou seja, a vida da fraternidade. Um conselho responsável, cujos membros buscam a 
santidade, a simples presença do Assistente, as reuniões bem preparadas, sem “devocionalismos” nem sempre sadios, a certeza de que uns podem contar com os outros, o facto de se ver irmãos carregando os fardos uns dos outros: que melhor formação podemos pedir? Reuniões com equilíbrio entre oração, estudo e convivência, presença regular de todos, alegria dos encontros. Pouco adianta organizar cursos de formação quando, concretamente, a vida em Fraternidade deixa a desejar. O Assistente, quando necessário, exortará para que as reuniões gerais sejam de muito boa qualidade.
4. No caminho franciscano fala-se muito desse “seguir a Cristo”. Penso que o Assistente, de modo 
particular, pode ajudar os irmãos e as irmãs a colocarem os seus pés nos passos do Senhor. Quando um franciscano secular não entendeu, existencialmente, este seguimento do Senhor que leva à conversão, faltou alguma coisa de capital no seu itinerário espiritual. O conhecimento experimental do Cristo ressuscitado é fundamental. José Antonio Pagola, na apresentação de um livro que escreveu sobre Jesus, assim se exprimiu: “Em quem pensei ao escrever este livro? Antes de mais nada, tive em mente cristãos e cristãs que conheço de perto. Sei como se inflamará a sua fé e como desfrutarão do fato de serem crentes, se conhecerem melhor Jesus Cristo. Muitos deles, mulheres e homens bons, vivem da “epiderme da fé”, alimentando-se de um cristianismo convencional. Procuram segurança religiosa nas crenças e práticas que encontram ao seu alcance, mas não vivem uma relação feliz e prazerosa com Jesus Cristo. Ouviram falar d’Ele desde quando eram crianças, mas o que sabem dele não os seduz nem enamora. A sua vida se transformaria se se encontrassem com Jesus. Conheço bem a tentação de viver corretamente dentro da Igreja, sem nos preocuparmos com a única coisa que Jesus procurou: o reino de Deus e sua justiça. É preciso voltar às raízes, à primeira experiência que desencadeou tudo (...) Nada é mais importante para a Igreja do que conhecer, amar e seguir mais fielmente a Jesus Cristo” (Jesus. Aproximação histórica, Vozes, p. 26-27). O Assistente, com a sua formação teológica e o seu zelo espiritual, pode ajudar a acender esse fogo, sem o qual a Ordem marca passos. Os franciscanos seculares fazem uma promessa e uma experiência da Paixão de Cristo.
5. Não se pode esquecer: a primeira opção de um cristão é seguir Jesus. Essa decisão muda tudo. 
“É como começar a viver de maneira diferente a fé e a realidade de cada dia. Encontrar, por fim, o 
eixo, a verdade, a razão de viver, o caminho. Poder viver dando um conteúdo real à adesão a 
Jesus; crer no que Ele acreditou; viver o que Ele viveu; dar importância àquilo que Ele dava 
importância; interessar-se por aquilo que Ele se interessou; tratar as pessoas como Ele as tratou; 
olhar a vida como Ele a olhava; orar como Ele orou; transmitir esperança como Ele transmitia” (Pagola, p 569-570). Ora, esse trabalho de conversão é obra do Espírito Santo, mas está também 
colocado nas mãos de um Assistente atilado. Podemos avaliar como é prejudicial a uma Fraternidade não ter assistência ou uma assistência exercida ocasional e precariamente. Não seria essa a razão da existência de Fraternidades enfraquecidas?
6. Não podemos esquecer que vivemos em tempo de turbulência. Quando falamos em formação não temos apenas uma bagagem a transmitir como a lição de um livro, mas o encontro de pessoas que vivem no século XXI, com a grandeza do Evangelho que é perene, mas que precisa atingir histórias concretas. Tantas características delicadas: as pessoas precisam escolher a cada instante, não recebem herança feita, estão sempre escolhendo, precisam saber escolher; tudo é móvel, tudo é substituível, tudo é precário; somos centros de nós mesmos (escolhemos filmes, lojas, marido, mulher);somos anónimos no grande mundo; convivemos com pessoas de outras religiões, sem religião, até mesmo dentro da nossa casa; tudo tem que ser rápido, muito rápido; não queremos, não sabemos dar tempo ao tempo; vivemos no mundo do provisório. Por melhores que sejam os textos de estudo, eles devem passar pelo filtro de um formador inteligente, capaz de entender os sinais dos tempos e de ajudar os formandos a deixarem-se evangelizar no terreno movediço da cultura de hoje. Não se trata de aceitar as coisas como elas se apresentam. É precisamente nesta instabilidade que se constrói a identidade do franciscano secular, sobretudo com as cores de um laicado inserido no mundo, e desejoso também de contemplar na oração. O Assistente espiritual  é alguém que pode e deve ajudar  formadores e formandos a situarem-se nesse mundo do individualismo, da provisoriedade, da descartabilidade. 
Repito, as páginas dos nossos livros de formação e apostilas de cursos não conseguem fazer isso.
7. Pano de fundo de toda a formação, seja aquela realizada pela equipa formadora ou pela Assistência, é o de um  laicado maduro. A Ordem Franciscana Secular dará uma contribuição ímpar à Igreja na medida em que tiver membros conscientes da sua laicidade, não desejosos de cultivar apenas “devocionalismos” e alimentar emoções,  gente que sabe viver no mundo, com gente do mundo, na família, no casamento, na educação dos filhos,  nesses tempos de turbulência. Um laicado maduro não tem como primeira meta ser ministro da Palavra ou da Eucaristia (o que não significa que não possam assumir estas tarefas),  mas ser transformador da sociedade por posturas claras no campo da vida de todos os dias. É aquele que aprende a dinâmica do ver-julgar-agir. Enquanto os nossos percursos formativos não caminharem nesta direcção, teremos fraternidade que, talvez, na sua mentalidade, sejam anteriores ao Concilio do Vaticano II. O Assistente espiritual, nas reuniões do Conselho, nos encontros da Fraternidade, nos dias de estudo, terá condições de levar esse grupo de cristãos a um processo de maturação da laicidade franciscana. Este é um ponto de honra de toda boa formação.
8. Leigos no mundo, na Igreja, leigos franciscanos, quer dizer, gente que aprende a alegria de 
viver das coisas e nas coisas simples. Discípulos do Poverello adoptam um estilo de vida simples 
que se concretiza em todos os campos da sua acção e da sua vida: casa sem luxo, moderação 
no uso do dinheiro, distância de uma sociedade cruelmente consumista. Não basta apenas vestir 
uma camisa com estampas de Francisco e Clara, mas ter um fascínio pela simplicidade do 
Evangelho e pela pobreza do Filho de Deus. Leigos maduros que são capazes de conviver com o 
diferente, tanto no dia a dia da vida quanto no campo das religiões. Leigos maduros que criam 
zonas e áreas de proximidade com as pessoas, de fraternidade, num mundo marcado pelo 
individualismo. Não cabe ao Assistente ajudar os Conselhos e as Fraternidades a passarem nas 
provas de um laicado maduro?
9. Mundo da superficialidade, das coisas feitas com rapidez, sem profundidade.  Reuniões superficiais, liturgias banais, tudo sem densidade. Gente que repete credos e orações sem atinar para o que estão dizendo. Pessoas que pronunciam palavras religiosas mas que não conhecem o seu significado mais profundo. Cabe ao Assistente espiritual desenvolver todo um programa de compreensão do que vem a ser a verdadeira oração. Será preciso levar os irmãos ao deserto, a ouvirem a voz do Senhor, a 
descobrirem o lugar onde talvez as suas existências possam ser transfiguradas. O Assistente velará a que os retiros tenham profundidade, que as celebrações eucarísticas não sejam adaptadas aos gostos individuais, mas reflictam o tempo litúrgico, as leis mais simples da boa participação, consciente e densa. 
10. Parece importante que os nossos irmãos e irmãs adquiram ou readquiram o apreço pela 
celebração quotidiana da Eucaristia ou ao menos vivenciem em profundidade a missa do 
domingo. Cabe ao Assistente despertar nos irmãos o gosto pela  Eucaristia, sobretudo que os leigos se dêem conta da nobreza do sacerdócio comum dos fiéis e que façam  uma oferenda de si mesmos no 
decorrer do movimento da Eucaristia. Cantar quando se deve cantar e o que se de deve cantar. Calar e escutar. Escutar com as entranhas. Na Eucaristia fazemos de nós uma oferenda com Jesus que vem estar connosco no regime da fé, nas aparências do pão e do vinho.
A Trindade, Francisco e a nova criação - 1ª parte.
Publicado no blog Frei Vitório Mazzuco 25/11/2008

São Francisco não foi um teólogo, mas viveu uma vida teologal de grande densidade.

Transformou-se no que foi, porque criou espaço dentro de si à realidade divina, para que, através dele, se manifestasse assim como ela é. Se Deus é comunhão de divinas pessoas num infinito jogo de inter-retro-relações de vida e de amor, então essa realidade comunional encontrou em São Francisco, na sua prática e nos seus gestos concretos, um lugar privilegiado de expressão.

São Francisco não foi um clérigo letrado que faz um tratado daquilo que crê, mas um humano enamorado pelo divino que gerou um cristianismo de sedução. Não basta seguir o Senhor, tem que se apaixonar por Ele!

Em Francisco irrompe um jeito terno e fraterno de compreender Deus como comunidade, um conglobante mistério que unifica sua vida e o faz perceber a Trindade viva em tudo o que existe: olha o Filho numa relação íntima com o Pai e numa abertura total ao Espírito, uma relação interpessoal, viva, transbordante.
Questionamento para aprofundamento do texto
1) Somente o cristianismo possui a fé no Deus Trino. Por quê?
2) Você já identificou como se revela a expressão da Trindade na obra da criação? Onde? Como?
3) Como se explica o alcance da experiência trinitária de Francisco?

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff



A experiência trinitária de S. Francisco – Parte 2
Publicado no blog Frei Vitório Mazzuco 26/11/2008


Com efeito, em seus poucos escritos se nota uma perspectiva trinitária extremamente coerente.

 Quer dizer, não fica preso ao linguajar do monoteísmo pré-trinitário que fala simplesmente de Deus, comum nos discursos dominantes.
Ele sempre qualifica sua fala em termos trinitários, Pai, Filho e Espírito Santo. Isso se nota em seus escritos como Admoestação nº 1, nas Orações de Louvor a serem recitadas em todas as Horas Canônicas, na Regra Não-Bulada e na Regra Bulada.

 Mais ainda, faz uma opção, certamente inconsciente, mas de grande profundidade teológica: estabelece uma certa ordem em seu discurso ou fala de três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, ou então começa sempre pela Trindade e daí deriva para a unidade (cf. Regra Não Bulada 21, 1; 16; 23, 32.36; 2Carta aos Fiéis 3; 3Carta 1,52; Pai Nosso 17) com expressões como essa “adorai o Senhor Deus todo-poderoso, em Trindade e Unidade”( Regra Não Bulada 21,2); ou “em nome da suprema Trindade e da santa Unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (3Carta aos Fiéis, 1).

Com isso, Francisco se coloca no coração da experiência cristã de Deus, experiência de comunhão entre divinas pessoas. Essa experiência nunca teve muita centralidade na teologia escolar e na piedade comum dos fiéis.

Se ele vê a criação como a grande casa paterna e materna de Deus e todos os seres como irmãos e irmãs da grande família divina, se percebe laços de fraternura e de consangüinidade entre todos os elementos cósmicos, é porque está sob singular influxo de uma experiência trinitária e comunional de Deus. Ele não precisa falar conscientemente sobre a Trindade. Ele é tão unido à realidade divina que é Trindade que esta se auto-revela no concreto de sua vida e de seu modo de sentir o mundo.

 Daí a importância da vida de S. Francisco que se transforma num texto teológico a ser lido, interpretado, desdobrado e traduzido para o enriquecimento da vida cristã e humana.

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff.

29/11 - Todos os Santos da Ordem Seráfica

Neste dia 29 de novembro a Família Franciscana no mundo inteiro celebra o dia de Todos os Santos da Ordem Seráfica.

A Família Franciscana de todo o mundo celebra hoje a festa de todos os santos e santas da Ordem Seráfica. Estes santos e santas foram homens e mulheres que de modo exemplar viveram radicalmente o Santo Evangelho. Eis que são modelos a serem imitados.

Santos canonizados da primeira ordem, 110; Santas canonizadas da segunda ordem, 9; Santos e Santas canonizados da terceira ordem regular e secular, 53; Religiosos da primeira ordem beatificados, 161; Religiosas da segunda ordem beatificadas, 34; da terceira ordem regular e secular, 95 beatificados. Total de membros das ordens franciscanas canonizados e beatificados, no fim do milênio, 482.
No aniversário da aprovação da regra de São Francisco, Honório III, no dia 29 de novembro de 1223. A ordem franciscana recolhe-se em oração festiva para contemplar a grandiosa árvore de santidade nascida daquele livrinho que Francisco dizia ter recebido do próprio Jesus e constituía a “medula do Evangelho”.
Era esse precisamente o projeto de vida e o carisma do pobrezinho: ser sal da terra e luz do mundo, fazer reviver na Igreja o Evangelho em sua pureza, ou seja, apresentar perante os homens a vida de Cristo em todas as suas dimensões: desde a pobreza ao zelo pela salvação de todos, do anúncio da Boa Nova ao sacrifício da cruz.
Quem poderia contar a imensa multidão de Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus – se quisermos utilizar esta terminologia canônica – ou melhor ainda, de todos os irmãos e irmãs, sem nome e sem rosto, que nos limites da sua fragilidade viveram a perfeição evangélica, fazendo da regra franciscana a norma da sua vida? É um imenso capital de santidade e de amor, muitas vezes desconhecido, outras vezes esquecido, quando não mesmo desprezado pelo mundo! O bem dá menos nas vistas do que o mal; no entanto, a história do bem, tantas vezes anônima e despercebida, tem escrito o nome e o rosto de Cristo. É essa história que impede o mundo de cair no desespero e fecunda as atividades da Igreja.
São Francisco disse um dia aos irmãos, numa explosão de alegria: “Caríssimos, consolai-vos e alegrai-vos no Senhor! Não vos deixeis entristecer pelo fato de serdes poucos, nem vos assusteis da minha simplicidade nem da vossa, pois o Senhor me revelou que há de fazer de nós uma inumerável multidão e nos propagará até os confins do mundo. Ele me mostrou um grande número de pessoas a virem ter conosco, com o desejo de viverem segundo a nossa regra. Ainda me parece ouvir o ruído dos seus passos! Enchiam diversos caminhos, vindos de todas as nações: eram franceses, espanhóis, alemães, ingleses, uma turba imensa de várias outras línguas e nações”.
Ao ouvirem estas palavras, uma santa alegria se apoderou dos irmãos, pela graça que Deus concedia ao seu Santo.
A prodigiosa árvore da santidade franciscana testemunha a vitalidade e autenticidade evangélica da mensagem de São Francisco. A festa que hoje os franciscanos celebram é um convite e um estímulo a devolver a Deus o amor que ele nos deu em Cristo, vivendo na pobreza e na humildade uma vida verdadeiramente fraterna, para que o mundo acredite, mediante este amor realizado, que o Pai ama e quer todos os homens salvos em sua casa.
Rezemos:
ORAÇÃO – Deus eterno e todo-poderoso, que nos dignastes iluminar a vossa Igreja com o esplendor de todos os santos da Ordem Seráfica, fazei que, celebrando numa só festa a sua memória, possamos seguir na terra os seus exemplos, e alcançar no céu a coroa da justiça. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


 ORDEM FRANCISCANA SECULAR

«Também os homens casados lhes diziam:
Temos esposas que não podem ser abandonadas.
Ensinai-nos, pois, um caminho
que possa levar à salvação.

E os irmãos fundaram com eles uma Ordem,
que se chama Ordem dos Penitentes,
e fizeram com que o Sumo Pontífice
a confirmasse»
(AP 41)
.

O primitivo nome da Ordem Franciscana Secular, foi o de Irmãos e Irmãs da Penitência; nos fins do século XIII começou a prevalecer a designação de Ordem Terceira de S. Francisco de Assis, nome que, na Regra de Paulo VI, promulgada em 24 de Junho de 1978, foi mudado para Ordem Franciscana Secular.
A Ordem Franciscana Secular nasceu num tempo em que o movimento dos Penitentes sobressaía largamente na Igreja. Os frades menores, nas suas missões por toda a Europa, fundaram Ordens Terceiras para viverem a «forma de vida» que lhes deu Francisco. Foi assim que nasceu a Ordem dos Irmãos e Irmãs da Penitência.
Os primeiros Irmãos da Ordem Terceira, segundo a tradição, foi o casal Luquésio e Bonadona, de Poggibonzi, na Toscana. Podemos dizer que pertenceram à Ordem Terceira pessoas que viveram no mundo e foram dirigidas espiritualmente por Francisco de Assis. Tais foram Jacoba de Setessoli, Praxedes de Roma, João Velita de Greccio e o Conde Orlando de Chiusi. Toda a aldeia de Greccio terá chegado a formar uma grande Fraternidade da Ordem Terceira.
Desde que Francisco se fez Penitente, em 1207, e sobretudo a partir de 1209, ano em que deixou de vestir-se de eremita e passou a vestir-se como frade, dedicou-se, cada vez mais, à promoção e desenvolvimento do Movimento dos Penitentes, que, por sua vez, buscava também a sua orientação e a sua norma de vida. Este Movimento é composto por pessoas de todas as condições sociais, casadas e solteiras. A fundação da Ordem Franciscana Secular ou Ordem Terceira da Penitência é tradicionalmente situada no ano de 1221, cinco anos antes da morte de Francisco.
Os Franciscanos Seculares constituem uma verdadeira Ordem na Igreja. Não formam um mero movimento ou associação qualquer. A Ordem Franciscana Secular (OFS) é uma ordem reconhecida como tal pela Igreja, com forma de vida, chamada Regra, e estatutos aprovados pela Santa Sé. Como tal, ela é acolhida e aceite pela Igreja em todo o mundo.
A OFS é constituída por Fraternidades abertas a todos os cristãos seculares. Nelas há lugar para jovens, para casados, viúvos e celibatários no mundo; para clérigos e leigos; para todas as classes sociais, todas as profissões, para todas as raças; para homens e mulheres. Há lugar para todos porque se procura viver segundo o Santo Evangelho.
O projecto de vida de todo o cristão e especialmente de todo franciscano secular é o seguimento da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme os ensinamentos que nos foram revelados através do Santo Evangelho. Por isso, «A Regra e a vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o exemplo de São Francisco de Assis, que fez do Cristo o inspirador e o centro de sua vida com Deus e para com os homens» (Rofs 4; 1Cel, 18, 115).
A OFS articula-se em Fraternidades de vários níveis: local, regional, nacional e internacional. Todas as fraternidades, de qualquer nível, gozam de autonomia administrativa, económica e financeira. Porém, as fraternidades dos diversos níveis estão coordenadas e ligadas entre si segundo a Regra, as Constituições Gerais, o Ritual e os Estatutos.
Para os jovens os Franciscanos Seculares propõem a JUFRA (Juventude Franciscana) - Fraternidade dos Jovens que se sentem chamados pelo Espírito Santo a fazer a experiência da vida cristã à luz da mensagem de São Francisco de Assis, dentro da Família Franciscana. Em virtude da sua condição secular, os jovens vivem a sua vocação no âmbito da Ordem Franciscana Secular (OFS), de que a JUFRA é parte integrante e com a qual se relaciona em espírito de comunhão vital e recíproca.

29/11 Dia deTodos os Santos da Ordem Franciscana

Santos canonizados da primeira ordem, 110; Santas canonizadas da segunda ordem, 9; Santos e Santas canonizados da terceira ordem regular e secular, 53; Religiosos da primeira ordem beatificados, 161; Religiosas da segunda ordem beatificadas, 34; da terceira ordem regular e secular, 95 beatificados. Total de membros das ordens franciscanas canonizados e beatificados, no fim do milênio, 482.
No aniversário da aprovação da regra de São Francisco Honório III, no dia 29 de novembro de 1223. A ordem franciscana recolhe-se em oração festiva para contemplar a grandiosa árvore de santidade nascida daquele livrinho que Francisco dizia ter recebido do próprio Jesus e constituía a “medula do Evangelho”.
Era esse precisamente o projeto de vida e o carisma do pobrezinho: ser sal da terra e luz do mundo, fazer reviver na Igreja o Evangelho em sua pureza, ou seja, apresentar perante os homens a vida de Cristo em todas as suas dimensões: desde a pobreza ao zelo pela salvação de todos, do anúncio da Boa Nova ao sacrifício da cruz.
Quem poderia contar a imensa multidão de Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus – se quisermos utilizar esta terminologia canônica – ou melhor ainda, de todos os irmãos e irmãs, sem nome e sem rosto, que nos limites da sua fragilidade viveram a perfeição evangélica, fazendo da regra franciscana a norma da sua vida? É um imenso capital de santidade e de amor, muitas vezes desconhecido, outras vezes esquecido, quando não mesmo desprezado pelo mundo! O bem dá menos nas vistas do que o mal; no entanto, a história do bem, tantas vezes anônima e despercebida, tem escrito o nome e o rosto de Cristo. É essa história que impede o mundo de cair no desespero e fecunda as atividades da Igreja.
São Francisco disse um dia aos irmãos, numa explosão de alegria: “Caríssimos, consolai-vos e alegrai-vos no Senhor! Não vos deixeis entristecer pelo fato de serem poucos, nem vos assusteis da minha simplicidade nem da vossa, pois o Senhor me revelou que há de fazer de nós uma inumerável multidão e nos propagará até os confins do mundo. Ele me mostrou um grande número de pessoas a vir ter conosco, com o desejo de viverem segundo a nossa regra. Ainda me parece ouvir o ruído dos seus passos! Enchiam diversos caminhos, vindos de todas as nações: eram franceses, espanhóis, alemães, ingleses, uma turba imensa de várias outras línguas e nações”.
Ao ouvirem estas palavras, uma santa alegria se apoderou dos irmãos, pela graça que Deus concedia ao seu Santo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


O que se diz a respeito de Francisco?

Por que a ti? Por que a ti? Por que a ti?

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
1. Vivemos os dias de outubro de 2009, mês da festa solene de Francisco. Temos ainda alguns meses, uns poucos meses, deste ano de 2009, ano dos oito séculos do carisma franciscano. Ao celebrarmos a festa do carisma das origens pensamos em nossa vida com Francisco. Quando o encontramos pela primeira vez? Quem teve a delicadeza de nos apresentar a este que os séculos aprenderam a venerar?  Que traços de Francisco temos em nosso semblante? Em que nossa Província se parece com Francisco?  Estamos às portas do Capítulo Provincial.  Dentro de pouco tempo nossas bolsas estarão prontas e percorreremos os caminhos que nos levarão a Agudos. Quantas belas coisas haveremos de viver! Bom seria se pudéssemos uma vez mais, no fundo de nosso coração, responder a esta pergunta tão simples:  Por que as pessoas andavam atrás de Francisco? Conhecemos o diálogo entre Frei Francisco e Frei Masseo conservado nos Fioretti (n. 10).  Masseo quer saber os motivos pelos quais  todo mundo andava atrás de Francisco.  Por que a ti? Por que a ti?  Por que a ti?  Conhecemos a resposta que o autor coloca nos lábios de Francisco: “Isto recebi dos olhos do Deus altíssimo, os quais, em cada lugar contemplam os bons e os maus; porque aqueles olhos santíssimos não encontraram nenhum mais vil nem mais insuficiente, nem mais pecador do que eu; e assim, para realizar esta operação maravilhosa, a qual entendeu fazer, não achou outra criatura mais vil sobre a terra; e por isso me escolheu para confundir a nobreza e a grandeza e a força e a beleza e a sabedoria do mundo, para que se reconheça que todo bem é dele e não da criatura e para que ninguém se possa gloriar  na presença dele; mas quem se gloriar que se glorie no Senhor, a quem pertence toda honra e glória na eternidade”. Francisco começa dizendo simplesmente que ele existe para dizer com palavras e gestos que todo o bem vem  do Sumo Bem!  Vamos dar a voz  a alguns entre tantos que escreveram sobre Francisco. Eles tentam dizer os motivos  pelos quais tantos andaram e andam ainda hoje atrás de Francisco e ajudam-nos, por nossa vez, nesse tempo refundação e de volta à graça das origens, a formular também a resposta a esta pergunta: Quem é Francisco para nós?   Que a reflexão sobre estes pensamentos nos tornem mais leves, mais lépidos, mais alegres para começar a caminhada rumo a Agudos!!!
2. Omer Englebert escreve: “Francisco é dessas figuras das quais a humanidade sempre sentirá orgulho. Suas qualidades forçam a simpatia; seus defeitos, se os tem, são atraentes; sua santidade nada  tem de esotérico, afetado ou ameaçador; seus dons naturais suscitam geral admiração; e seus ensinamentos exalam tal frescor, poesia e serenidade, que mesmo espíritos embotados podem encontrar neles razões para amar a vida e crer na bondade divina” (Vida de São Francisco de Assis, Omer Englebert. Trad. Frei Adelino G. Pilonetto. EST Edições, P. Alegre, 2004. p. 9).
3. Tomemos as observações feitas por Gérard Guitton  na Introdução de seu Découvir Saint François d’Assise, Salvator, Paris  2004. O Autor elenca opiniões e vários autores e escritores: O agnóstico Ernest Renan diz: “Deve-se dizer que depois de Jesus, Francisco de Assis foi o único cristão perfeito”.  Outro escritor agnóstico, André Malraux: “Será que se pode dizer que Francisco de Assis  tenha sido, na história da Igreja, o último gigante da santidade? Sem dúvida, depois dele, houve outros, mas nenhum deles conseguiu, unicamente por sua força espiritual, revolucionar o mundo ocidental e transformar a civilização como ele fez e até mesmo inspirando uma arte completamente nova…”.  Fr Gérard menciona ainda outros. Lenine afirmaria que ele não teria tido necessidade de fazer a revolução na Rússia se tivesse encontrado três ou quatro  Franciscos de Assis.  Clemenceau  disse que gostaria de ter em seu sangue algumas gotas do sangue de São Francisco.
4. Dois depoimentos fora dos muros da Igreja. O primeiro do austríaco, Kurt  Waldheim, antigo secretário geral da ONU: “São Francisco de Assis é o símbolo da paz, do respeito pela natureza e do amor pelos pobres que fazem parte do ideal seguido pela ONU cuja Carta foi assinada na cidade de São Francisco, que leva o nome do Pobre de Assis.  M. Amadou  Mahtar M’Bow lembra  “ a universalidade, o altruísmo caracterizado por uma vontade de diálogo e defendidos por Francisco de Assis que deseja ser instrumento da paz”.
5. Francisco não está morto. Ele vive. Não se pode “clonar” Francisco. Armindo Trevisam, na Apresentação da versão brasileira do livro de Omer Englebert:  “Em termos absolutamente concretos, a repetição de Francisco de Assis, a sua – digamos com humor – “clonagem” espiritual não teria sentido. Francisco é irrepetível. Foi um carisma concedido à Igreja num determinado século, em meio a determinadas necessidades espirituais. Mas é aqui, precisamente, que intervém um elemento supra-histórico: a graça de Deus. Francisco não está morto, está vivo. Está na glória de Deus e é nosso intercessor. Portanto, não desapareceu da História, porque a graça de Deus o mantém atuante dentro dela. É esse o mistério da comunhão dos santos e da esperança geral da humanidade” (…) “… a figura de Francisco de Assis possui uma tríplice dimensão: “a dimensão histórica, a dimensão sobrenatural, e a dimensão poético-mística que o converte num ideal e num sonho cultural da humanidade. Como promover a ecologia sem nos referirmos ao seu patrono? Como neutralizar as perversões da globalização sem evocar o homenzinho de Assis que pregava o anticonsumismo, limitando-se às necessidades básicas?  Como preservar um mínimo de relacionamento pessoal entre as classes sociais sem reviver a sua caridade universal, que abarcava os próprios lobos e cotovias?”
6. Éloi Leclerc  escreveu inúmeras obras cheias de profundidade e sabor a respeito de Francisco. O autor se encantou por Francisco antes da última guerra, viveu o inferno dos campos de concentração nazista e completou as etapas do seguimento do Poverello depois do fim da guerra e a chegada da paz. O Francisco de Leclerc sempre encanta.  “Há uma secreta vinculação entre a pureza do coração e a mansidão, entre a transparência das profundezas e a serenidade, entre a santidade e a bondade essencial. Talvez, no fundo, a pureza não seja mais do que a transparência do ser, frente à Bondade original. Um homem, pelo menos, assim a entendeu. Era um sábio, embora não cuidasse de o aparecer. Ele viu que a pureza e a mansidão, irmanadas, formavam a face de Deus. Por assim o haver entendido, esse homem renunciou ao poder que gera a violência, e ao dinheiro que está na raiz do poder. Deu de mão a toda ambição de domínio, incluindo a mais sutil de todas, a dos clérigos. Rompeu com o sistema político-religioso de seu tempo, a supremacia temporal da Igreja, as lutas feudais, as guerra santas. Fê-lo sem clamor, sem subverter a opinião pública, com suavidade, humildemente, mas realmente. Num mundo violento, eriçado de torreões, cavado de fossos, o seu universo não conhecia muralhas e torres de vigia. Pobre de bens e de poder, estava em paz com todos, vivia  ao nível de todos os seres, para todos tinha um olhar cheio de luz e de respeito. O olhar, sobretudo, era nele maravilhosamente humano; humanos os sentidos todos. As criaturas já não eram objeto de posse e de domínio. Irmão do sol e das criaturas, caminhava num mundo aberto e  esplendoroso. Era o pai de uma multidão de amigos.  Nele se congraçavam a pureza e a ternura, e nenhuma barreira lograva impedir que se expandissem pelo mundo. O seu horizonte  não era a Cristandade temporal, com seu prestígio, as suas fronteiras  a defender ou  a dilatar, mas apenas Jesus Cristo que urgia amar e servir, o homem que se impunha salvar.  Foi longe nesse propósito, para além das fronteiras da Cristandade. Em plena Cruzada, foi para o Oriente, não para combater ou desempenhar meras funções de assistente espiritual, mas para reencontrar os outros, os que não pensavam como ele. Várias vezes se avistou com o sultão Melik-el-Kamil. O desprezo de qualquer sucesso pessoal, o brilho que de si próprio irradiava impressionaram de tal modo o chefe muçulmano que chegaram a discorrer longamente, como bons amigos, sobre as respectivas religiões. Teve mesmo que declinar honrarias e benesses com que o sultão o desejava distinguir. E se este não aceitou a fé cristã ficou lançada uma ponte entre o Ocidente e o Oriente.  Foi, sem dúvida, um grande momento da história dos homens (…).  “… a sombra perseguia esse homem de coração solar. A sombra de seu tempo na qual trabalhava o Maligno, agarrava-se-lhe aos pés para o vergar ao fracasso. E fracassou, com efeito. Não  converteu o sultão à fé cristã, nem os cristãos à mansidão evangélica. Não reconciliou os homens, nem realizou a unidade.  Viu até germinar a discórdia entre os próprios discípulos. Um tal fracasso poderia fazê-lo vacilar, lançá-lo num abismo de desespero. Depois de ter trabalhado na paz, conheceu durante dois anos  o acicate da turbação – a turbação que é, para o homem a revelação de que não é totalmente puro nem perfeitamente  transparente e permeável à Bondade original.   Mas que faltava a este homem para estar inteiramente aberto à luz e realizar em plenitude a semelhança com o Pai?  Nada, talvez.  Ou apenas isto: aceitar até o fim a prova da paternidade e entrar, desse modo no mistério do Pai. Para conseguir a semelhança divina não basta invocar o Pai, nem sequer manter com Ele relações filiais. É necessário conhecer por si mesmo, no apagamento,  o que é ser Pai à maneira de Deus.  Conhecê-lo, sendo-o, ele próprio também.  Este homem aceitou. E começou então, para ele, uma lenta migração interior para as regiões do ser, onde o último segredo do mundo se revela cada vez mais transparente.   Conheceu finalmente a alegria do Pai.  Doravante, nada o perturbará. Com igual regozijo poderá cantar o sol e a morte. E recolher no coração, de quando em quando, as secretas harmonias vindas da outra margem do silêncio” (in Desterro e Ternura,  Braga 1974, p. 10-12).  Que estupendo este texto a respeito de Francisco.
7. Donald Spoto, estudioso americano, publicou um livro interessante sobre Francisco ( Francisco de Assis. O Santo Relutante, Objetiva, 2002). Primeiramente ele nos fala da influência de Francisco na cultura: “Francisco deixou sua marca na arte, na literatura e na história da civilização ocidental, a começar por Dante, que nasceu 40 anos após sua morte  e que dedicou a Francisco a quase totalidade de um dos cantos da Commedia. Não é exagero dizer que todas as expressões italianas subseqüentes  de cultura religiosa devem  algo a Francisco, desde os afrescos de Cimabue e Giotto até os filmes de Vittorio de Sica e Federico Fellini, que estão impregnados de uma profunda sensibilidade franciscana” (p.20).
8. Estas reflexões são completadas pelas palavras  vigorosas e contundentes  de  Paul Sabatier, na sua Vida de São Francisco de Assis (IFAN). Transcrevemos umas poucas linhas da Introdução. Discorre o autor sobre as religiões que visam à divindade. Todo esforço nessas religiões, segundo Sabatier, se concentra no culto e, em particular,  no sacrifício. A finalidade a ser alcançada é uma mudança nas disposições dos deuses.  Esses são reis poderosos, dos quais se deve comprar o apoio ou o favor por meio de presentes. A maior parte das religiões pagãs faz parte dessa categoria, bem como o judaísmo farisaico. É também a tendência de certos católicos  atrasados para quem o grande negócio é apaziguar Deus ou comprar, à custa de orações, de velas e de missas, a proteção da Virgem e dos Santos”. Espero que meus leitores compreendam a rudeza das palavras do Sabatier. Coloquem-na no vigor crítico. Depois ele escreve a respeito das religiões que querem mudar o homem. Diz que a partir da conversão Francisco tem maneira diferente de rezar.  Ali ela manifesta sua mudança e sua grandeza:   “… a oração, que se tornou  ato essencial da vida, perde seu caráter de fórmula mágica; torna-se impulso do coração; é a reflexão e a meditação que se eleva acima da vulgaridade do aqui para penetrar os mistérios da  vontade divina e conformar-se com ela; é o ato do átomo que compreende sua pequenez, mas mesmo que seja apenas um som, quer que este som, esteja em sintonia com a sinfonia divina. Ecce adsum, Domine, ut faciam voluntatem tuam. Quando alguém alcança essas alturas, não pertence mais a seitas, mas  à humanidade. É semelhante a essas maravilhas da natureza que o acaso coloca em território de tal ou tal povo, mas que pertencem a toda a humanidade, porque no fundo não pertencem a ninguém ou, antes, são propriedade comum e inalienável de todo o gênero humano. Homero, Shakespeare, Dante, Goethe, Miguel Ângelo, Rembrant pertencem a  nós todos, tanto como as ruínas de Atenas ou  de Roma, ou antes, pertencem a quem mais os ama, a quem os compreende melhor”.
9. Francisco não era um teórico da vida espiritual.  Falava de Deus em termos de experiência. “Falava somente daquilo que conhecia, ouvia e sentia. Nesse particular, nós o vemos, ao longo dos séculos, como exemplo do que Deus é capaz de fazer, isto é, principalmente maravilhar-nos, alterar radicalmente a maneira pela qual vivemos e agimos. Nos trechos dramáticos de sua própria vida, e na forma pela qual umplayboy simpático  mas um tanto vazio se transformou em modelo servidor do mundo, ele revelou a presença de Deus no tempo e na história. Em outras palavras, sua credibilidade é grande por haver demonstrado que nosso melhor momento acontece quando ousamos permitir que Deus penetre nossas vidas. Os extremos da vida de Francisco, durante os quais ele passou de playboy a penitente, e de pobre a santo, revelam um indivíduo que se colocou à margem do mundo.  Em sua identificação com aqueles que a sociedade polida rejeita, Francisco questionou a insensatez de confiar no dinheiro, nos bens e coisas materiais em busca da felicidade. Sua figura atrai praticamente a todos, provavelmente porque (ao contrário da maioria dos santos) ele não é propriedade da Igreja Católica Romana. Sua primeira grande biografia moderna foi escrita por um protestante francês; um dos mais importantes historiadores do franciscanismo foi um bispo anglicano; um ortodoxo grego é o autor de um vigoroso romance sobre sua vida; e para ser fotografado em uma conferência de paz em Assis, o Dalai Lama quis sentar-se no lugar que Francisco mais amava e no qual morreu” (Spoto, p. 21-22).
10. O texto da FFB  sobre os 800 anos do Carisma (Reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis no chão da América Latina e do Caribe) teve sua primeira e principal redação, segundo informações, de Frei Prudente Nery, capuchinho querido, de boa cepa e de veia poética, que a Irmã Morte veio buscar muito cedo, muito cedo…  Falando do encontro de Francisco com o Evangelho da missão, assim se exprime o texto: “Para dentro desse encontro, Francisco traz tudo aquilo que lhe era próprio. Não apenas o que lhe dera, em prodigalidade, a natureza, mas também o que ele havia visto, discernido, aprendido e construído, em sua vida, no momento histórico em que lhe fora dado viver. Nada disso é aniquilado em seu encontro com o Evangelho (Jesus Cristo). Antes constitui o chão bom e fértil onde a graça se deposita e floresce em única e copiosa beleza.  Como de todo encontro verdadeiro nunca saímos o mesmo, assim também aqui, Francisco, por sua natureza sui generis, retira desse tesouro (Evangelho) coisas novas e velhas, desoculta-lhes desconhecidas riquezas. Nele, o Evangelho se ergue da letra das Escrituras repleto de espírito, ressurge em nova vitalidade e manifesta-se em surpreendente atualidade. Por sua vez, o encontro com Jesus Cristo depura, fortalece, torna ainda mais luminosas as virtudes de Francisco” (p. 13).
11. Chesterton escreveu uma apaixonante biografia sobre o santo. Dele retenho apenas, por necessidade de brevidade, poucos parágrafos. Falando de Francisco, escreve: “Não é possível ler racionalmente a história de um homem apresentado como um espelho de Cristo sem compreender sua fase final como Homem das Dores e sem ao menos apreciar artisticamente a propriedade de ele ter recebido, numa nuvem de mistério e de isolamento, e não provocadas por mão humana, as feridas sempre abertas que curam o  mundo”  (G.K. Chesterton,  São Francisco de Assis. A Espiritualidade da Paz, Ediouro, 2001, p. 18).  “…. a vinda de São Francisco foi como o nascimento de uma criança numa casa escura que tivesse acabado com sua maldição; uma criança que cresce sem ter consciência da tragédia e que a vence por sua inocência. Nele, é preciso não só inocência, mas desconhecimento. É da essência da história que ele  se jogue na grama verde sem ver que ela esconde um cadáver ou que suba numa macieira sem saber que é a forca de um suicida. Foi essa anistia e reconciliação que o frescor  do espírito franciscano trouxe a todo o mundo” (p. 171).
12. Neste elenco riquíssimo de  depoimentos a respeito da beleza da vida de Francisco não convém deixar de lado o tocante depoimento de Julien Green, conhecido escritor: “Desde  a minha infância, em tempos perdidos nas brumas do passado, na rue de Passy onde morávamos, eu ouvia o nome de Francisco pronunciado com a ternura que sempre o acompanhava. Minha mãe, de modo especial,  protestante de boa cepa, devotava-lhe uma afeição que me leva a crer que ela o havia conhecido. Ele era e continua sendo o homem que vai além das tristes barreiras teológicas. Ele é de todo o mundo, como o amor que sempre nos é ofertado. Não se podia vê-lo sem amá-lo, dizia-se dele no seu tempo, e tal amor continua existindo.  Já tive ocasião de contar, em outro lugar, como, no momento da morte de minha mãe, que fraturou nosso pequeno universo familiar procurei a religião que ela parecia ter levado junto com ela. Meus laços com a Igreja anglicana iam sendo desfeitos. Caiu em minhas mãos um livro que expunha a fé católica e, em poucos dias, o lia apaixonadamente. Em menos de um ano aconteceu a conversão e fui recebido na Igreja em 1916.   Nesse meio tempo, grande devorador de livros, descobri a pesquisa séria de Madame Arvède Barine, sobre São Francisco e a Legenda dos Três Companheiros.  Fiquei louco de amor por esse mundo maravilhoso. Sonhava tornar-me como Francisco de Assis e quando o diretor encarregado de minha instrução religiosa perguntou-me o nome que queria  receber no  batismo, respondi com firmeza: “São Francisco de Assis”. Ele não manifestou nenhum entusiasmo e, com voz calma, disse: “Eu teria preferido São Francisco de Sales, mas a escolha é sua e será respeitada”. Eu não conhecia São Francisco de Sales e o padre jesuíta, certamente um santo homem, não acreditava ser oportuno me falar de Francisco de Assis, mas eu, em geral discreto, tornava-me falante quando podia cantar as loas do Pobrezinho.  Sentia-me na obrigação de completar um pouco a instrução que o reverendo padre, sobre esse grande personagem, dava a entender não conhecer tão bem.  Quantos pensamentos loucos se agitavam dentro de mim parecidos a um turbilhão.  Ser como São Francisco de Assis, que glória!  Eu era mesmo mais categórico em meu entusiasmo religioso: “Eu quero ser São Francisco de Assis”, declarei  um dia a meu diretor espiritual. Sua resposta se limitou a um  olhar sério e demorado e nada mais”. (Julien Green, Frère François, Ed. Du Seuil, Paris 1997, p. 341-342).
13. Fernando Felix Lopes, em seu O Poverello São Francisco de Assis, biografia com sabor português, encantadora em cada uma de suas páginas, faz uma pela de despedida de Francisco: “Voou para o Alto. Não voltará? Volta de novo à terra, ó Pai S. Francisco. Andaste no trabalho ingente e doloroso de arredar os espinhos que escondem no coração do mundo o Reino dos céus;  chagaste no trabalho os teus pés e mãos, teu peito estalou de cansaço num rasgão sangrento. E já os lobos amansavam suas gulas e sanhas, e as andorinhas andavam presas no encanto da tua voz, e os homens deixavam os campos de batalha para correr atrás de ti em convívio fraterno, e até os infiéis, enternecidos, escutavam teus cantares de Paz e Bem. Parece que já nos sorria o paraíso.  Mas foste embora naquela madrugada de luz que num instante fulgiu nos negrumes da terra, e logo se apagou. E foi outra vez a noite do pecado. Há mais espinhos sobre a crosta da terra; andam à solta, mais açulados e gulosos, os lobos que nos espreitam; fugiram aterradas as andorinhas; e as irmãs cotovias, tristes encapuchadas, vivem numa saudade imensa daquela madrugada que não chegou a amanhecer. Volta, pai S. Francisco, ao teu trabalho de encher a terra da paz do Reino de Deus!  Mas, se não voltas, então espera-me, ó Pai, espera-me, que também quero partir contigo!” (Ed. Franciscana, Braga,  1996, p. 493-494).
E agora?

Estamos afivelando nossas bolsas para empreender a viagem até Agudos.  Vamos viver a experiência do Capítulo da Imaculada!  Levamos o perfume de Francisco de Assis, alegria de sermos seus discípulos e a responsabilidade de mantermos viva sua memória.   Depois de percorrer tantas e tão extraordinárias “versões”  de Francisco, sentimos o peso de nossa responsabilidade. Somos franciscanos. Não é possível esquecê-lo. Faz parte de nossa identidade. Na cortesia de todos os momentos, na oração que brota dos cantos mais escondidos do coração, na simplicidade do vestir, do comer e do falar,  no trabalho de tornar o amor amado, na acolhida de todos, na vontade de ser irmão, vamos rumo a Agudos.  Que o espírito de Francisco nos preceda e nos acompanhe para sermos fiéis a nós  mesmos, ao que prometemos e para que, assim,  os lobos se tornem mais mansos, as águas mais puras, as comunidades dos cristãos mais evangélicas  e menos burocráticas,  nossas casas não apenas residências mas pequenas células do Reino novo. Nossas bolsas estão prontas para o Capítulo… Boa viagem.