terça-feira, 11 de março de 2014

O tema da formação antes do Capítulo da OFS

Divagações e reflexões em torno do tema da formação

1. Desnecessário dizer que num tempo de instabilidade e mudanças profundas no mundo, na sociedade, na Igreja e em nossa Ordem é sempre um grande desafio e bravura sem nome querer refletir sobre a formação. No momento tem gosto de provisório e de passageiro. Fica, no entanto, a certeza de que nossos irmãos, os que já estão conosco e os que estão chegando, têm direito a uma formação. Desafio particular é fazer com que seja bem “azeitada” a formação permanente. Apesar de todas as perplexidades, os formadores são chamados a transmitir um gosto pelo amanhã, um desejo que formandos se lancem na aventura humana, cristã e franciscana. Somos convidados a fazer com que as pessoas ergam a cabeça e sintam que podem ir em frente, apesar de todas as correções de rota a serem feitas no caminho. Uma palavra forte: coragem.

2. Numa sociedade que duvida de tudo e de si mesma, que alimenta uma visão “desencantada” do mundo, exprimindo-se com indiferença e mesmo um certo deboche diante de tudo, será preciso mostrar confiança no futuro. Apegamo-nos ao Evangelho, à tradição sólida dos documentos fundantes de nossa vida e vamos aguardando a sinalização do Espírito que sopra onde quer e para onde quer.

3. Tão ou mais importante que a formação inicial é a permanente. Nossas fraternidades franciscanas seculares são espaços de estudo, de reflexão, de ajustes. Não podemos simplesmente pular de tema em tema, de assunto em assunto. Cada fraternidade local, unida ao Nacional, terá um programa a seguir, temas a discutir. Trata-se de degustar as coisas interiormente. “Não é o muito saber que alimenta a alma, mas degustar as coisas interiormente” (Santo Inácio).

4. Não se trata apenas de ilustrar a mente com aspectos da fé e ângulos importantes da perspectiva franciscana de viver. Os que chegam e os que já estão precisam ser cristãos, santos, atuantes e com identidade franciscana clara. Este pensamento de Montaigne pode nos ajudar: “Ensinar não é encher vasos, mas acender luzes…”. Trata-se de um ensino com sabedoria.

5. Será preciso trabalhar valores humanos: percorrer as trilhas da maturidade, sair da superficialidade, ter coragem e força de vontade, saber o que significa assumir um compromisso, ter gosto pela convivência, viver com as diferenças, fugir de uma mentalidade restauracionista, rejeitar fanatismos, ter senso de humor, aprender a julgar fatos e acontecimentos.

6. Será fundamental experimentar Deus na oração, no irmão, na Escritura sempre, no começo, no meio e no fim, na formação inicial e na formação permanente, na primavera e no outono, até o fim.

7. Num tempo de profundas transformações, também no campo da fé será sempre necessário responder a pergunta de Jesus: “O que dizem os homens a respeito de mim e o que vocês dizem?” Uma adequada compreensão da dimensão da ressurreição do Senhor e de sua presença entre nós é de fundamental importância.

8. A formação será profundamente cristã e não marcada por devocionalismos. Há que estudar de verdade. Livros e textos serão colocados à disposição das equipes locais de formação. Cada um a partir do ponto em que se encontra não pode parar.

9. Deverão ser realçadas algumas das características do franciscano: simplicidade, vida belamente despojada, gosto pela fraternidade, sensibilidade para com as periferias, mentalidade de cuidador daquilo que é frágil, senso de minorismo.

10. As pessoas precisam ter consciência de que em nossas reuniões e encontros vamos descobrir caminhos novos que ainda não foram pisados. Num tempo de profundas transformações não é possível canonizar esquemas mortos, mas será preciso atentar para caminhos que o Espirito vai nos mostrar ou já está nos mostrando.

11. Os franciscanos, nossos formandos, precisam ser atuantes na Igreja, mas não de qualquer modo. Não se apresentam apenas para “tocar” para frente o que já vem sendo feito. Precisam refletir, discernir, estudar. Serão competentes nos serviços que aceitam: catequese, evangelização, acompanhamento dos jovens, das famílias.

12. No tempo da formação inicial os irmãos precisam assimilar uma biografia antiga e outra moderna de São Francisco. Parece necessário que ao menos conheçam a “Legenda dos Três Companheiros”. Desnecessário dizer que os “Escritos de São Francisco” precisam fazer parte do patrimônio pessoal de cada franciscano.

13. Os assistentes serão valiosos colaboradores tanto na formação inicial quanto na permanente. Usarão da palavra, ensinarão o método do ver julgar agir, farão com que as pessoas cultivem uma delicadeza de consciência, acompanharão atentamente os encontros formativos. Bem de perto seguirão os passos dos que se preparam para a profissão e se fazem pastores do pequeno rebanho.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, assistente nacional da Ordem Franciscana Secular.
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=53537