quarta-feira, 5 de setembro de 2012


Por que a Bíblia dos católicos é diferente da Bíblia dos evangélicos/protestantes?


Veja o texto de Frei Ildo Perondi na íntegra - www.ofmcapuchinhos.org.br

     Quem é que já não se perguntou por que a Bíblia dos católicos tem mais livros que a Bíblia dos evangélicos? Eles falam que nós (ou o papa) inventamos outros livros. Nós falamos que eles (ou Lutero) rasgaram alguns livros. Vamos tentar entender esta discussão.
     Tudo começou com a escolha do povo de Israel, o povo de Deus. Deus chamou este povo e fez história com ele, caminhou com seu povo e o povo caminhou com seu Deus. É uma história longa que começou com os nossos pais e mães da fé (Abraão e Sara; Isaac e Rebeca; Jacó e Lia e Raquel), passou pelo surgimento das doze tribos, pela escravidão no Egito, êxodo e a forma comunitária de vida chamada tribalismo.
     Depois do tribalismo veio a monarquia. Profetas falavam em nome de Deus, mas o povo acabou se afastando do projeto de Deus pela sua infidelidade e pela má administração dos reis. Isso levou a divisão do reino: o país se dividiu em dois (Israel/Samaria – no norte; Judá – no sul). Israel foi dominado pela Assíria (721 a.C) e Judá pela Babilônia (586 a.C).

     A Bíblia Grega (LXX): Depois da volta do exílio, muitos hebreus viviam fora de Israel, exilados ou porque emigraram. Nesta época em quase todo o mundo se falava a língua grega. Os hebreus que viviam fora de Israel tinham dificuldade de ter acesso ao texto bíblico escrito em hebraico.
     Aconteceu que no ano 300 a.C. alguns escribas hebreus decidiram traduzir a Bíblia para o grego. Conta-se que se reuniram em selas separadas 72 escribas vindos de Israel (6 de cada tribo) e em exatos 72 dias cada um fez uma cópia. Depois de concluídos viram que os textos eram absolutamente iguais. Por isso, esta tradução é chamada LXX (Setenta) ou Septuaginta.
Entretanto esta tradução não foi aceita pelos hebreus residentes em Israel, já que acreditavam que Deus só “falava” em hebraico. Já para os hebreus que viviam fora de Israel foi um acontecimento importante, pois podiam ler, estudar e viver a Palavra de Deus.
     Porém eles foram mais longe: entenderam que alguns livros escritos fora de Israel faziam parte da história do povo de Deus e por isso também eram inspirados por Deus. Foi assim que incluíram na Bíblia mais sete livros: Eclesiástico, Sabedoria, Tobias, Judite, Baruc, 1 e 2 Macabeus e alguns trechos dos livros de Daniel e Ester e uma Carta de Jeremias.
     Resultado: os hebreus gregos ficaram com um texto a Bíblia “maior”, enquanto que os judeus ficaram com a Bíblia “menor”. E no ano de 87, os judeus de Israel, no Concílio de Jamnia, definiram de uma vez por todas que para eles a verdadeira Bíblia hebraica era esta “menor”.

     A Vulgata (Bíblia em latim): No século V, a língua falada e escrita no mundo já não era mais o grego, mas o latim. Em 382 o Papa Dâmaso pediu a São Jerônimo a tradução dos Evangelhos. Depois São Jerônimo foi morar em Jerusalém e conheceu um rabino muito famoso que lhe ensinou bem o hebraico. E assim começou a traduzir a Bíblia Hebraica (AT).
     O problema começou quando o rabino orientou São Jerônimo a não traduzir os livros do Antigo Testamento que foram escritos em grego (maior), mas a Bíblia hebraica (menor). Por pedido do papa, São Jerônimo acabou traduzindo e incluindo os livros da Bíblia grega, originando a tradução latina da Bíblia (chamada Vulgata, isto é, fácil), que também ficou “grande”.

     A Tradução de Lutero: Em toda a Igreja se usava a Bíblia “grande”. Mas no século XVI, Martinho Lutero, iniciou a Reforma Protestante. Lutero, no desejo de que as pessoas lessem a Bíblia na sua própria língua, fez a tradução para o alemão, e traduziu o Antigo Testamento a partir do texto Hebraico (menor).

     Daí em diante os movimentos reformistas adotaram a versão “menor”, que também fora adotada por Lutero, enquanto que os católicos continuaram com a Bíblia maior. É por isso que ainda hoje temos as diferenças: Bíblia católica com sete livros a mais que as evangélicas. É algo que vem de longa data, e que não aconteceu por uma invenção dos católicos ou um erro de Lutero.

 
Paz e Bem!

Festa de São Jerônimo

     Dia 30 de setembro comemoramos a festividade de São Jerônimo, o tradutor da Bíblia. Nossa homenagem ao Santo é feita com suas próprias palavras: “Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo.” (São Jerônimo – do prólogo ao Comentário sobre o Profeta Isaías)

Tradutor e exegeta da Bíblia
foste um sol que a Escritura ilumina;
nossas vozes, Jerônimo, escuta:
nós louvamos-te a vida e a doutrina.



Fonte: deuspalavra.blogspot

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