quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Trindade, Francisco e a nova criação - 1ª parte.
Publicado no blog Frei Vitório Mazzuco 25/11/2008

São Francisco não foi um teólogo, mas viveu uma vida teologal de grande densidade.

Transformou-se no que foi, porque criou espaço dentro de si à realidade divina, para que, através dele, se manifestasse assim como ela é. Se Deus é comunhão de divinas pessoas num infinito jogo de inter-retro-relações de vida e de amor, então essa realidade comunional encontrou em São Francisco, na sua prática e nos seus gestos concretos, um lugar privilegiado de expressão.

São Francisco não foi um clérigo letrado que faz um tratado daquilo que crê, mas um humano enamorado pelo divino que gerou um cristianismo de sedução. Não basta seguir o Senhor, tem que se apaixonar por Ele!

Em Francisco irrompe um jeito terno e fraterno de compreender Deus como comunidade, um conglobante mistério que unifica sua vida e o faz perceber a Trindade viva em tudo o que existe: olha o Filho numa relação íntima com o Pai e numa abertura total ao Espírito, uma relação interpessoal, viva, transbordante.
Questionamento para aprofundamento do texto
1) Somente o cristianismo possui a fé no Deus Trino. Por quê?
2) Você já identificou como se revela a expressão da Trindade na obra da criação? Onde? Como?
3) Como se explica o alcance da experiência trinitária de Francisco?

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff



A experiência trinitária de S. Francisco – Parte 2
Publicado no blog Frei Vitório Mazzuco 26/11/2008


Com efeito, em seus poucos escritos se nota uma perspectiva trinitária extremamente coerente.

 Quer dizer, não fica preso ao linguajar do monoteísmo pré-trinitário que fala simplesmente de Deus, comum nos discursos dominantes.
Ele sempre qualifica sua fala em termos trinitários, Pai, Filho e Espírito Santo. Isso se nota em seus escritos como Admoestação nº 1, nas Orações de Louvor a serem recitadas em todas as Horas Canônicas, na Regra Não-Bulada e na Regra Bulada.

 Mais ainda, faz uma opção, certamente inconsciente, mas de grande profundidade teológica: estabelece uma certa ordem em seu discurso ou fala de três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo, ou então começa sempre pela Trindade e daí deriva para a unidade (cf. Regra Não Bulada 21, 1; 16; 23, 32.36; 2Carta aos Fiéis 3; 3Carta 1,52; Pai Nosso 17) com expressões como essa “adorai o Senhor Deus todo-poderoso, em Trindade e Unidade”( Regra Não Bulada 21,2); ou “em nome da suprema Trindade e da santa Unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (3Carta aos Fiéis, 1).

Com isso, Francisco se coloca no coração da experiência cristã de Deus, experiência de comunhão entre divinas pessoas. Essa experiência nunca teve muita centralidade na teologia escolar e na piedade comum dos fiéis.

Se ele vê a criação como a grande casa paterna e materna de Deus e todos os seres como irmãos e irmãs da grande família divina, se percebe laços de fraternura e de consangüinidade entre todos os elementos cósmicos, é porque está sob singular influxo de uma experiência trinitária e comunional de Deus. Ele não precisa falar conscientemente sobre a Trindade. Ele é tão unido à realidade divina que é Trindade que esta se auto-revela no concreto de sua vida e de seu modo de sentir o mundo.

 Daí a importância da vida de S. Francisco que se transforma num texto teológico a ser lido, interpretado, desdobrado e traduzido para o enriquecimento da vida cristã e humana.

Texto de Frei Vitório Mazzuco, OFM, e Leonardo Boff.

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