quinta-feira, 29 de novembro de 2012


O ASSISTENTE ESPIRITUAL DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR: FORMADOR DA FRATERNIDADE E DOS IRMÃOS
Por Frei Almir R. Guimarães, OFM

A assistência espiritual tem por objectivo favorecer a comunhão com a Igreja e com a Família 
Franciscana através do testemunho e partilha da espiritualidade franciscana, cooperar na 
formação inicial e permanente dos franciscanos seculares e manifestar o afecto dos frades à OFS
(Estatuto para a Assistência 2, 3).
1. Os franciscanos seculares gozam do direito de terem, nas suas Fraternidades, a presença do 
Assistente Espiritual que, juntamente com a equipa de formação, oferece a sua colaboração 
indispensável e de qualidade na tarefa formativa dos irmãos. Não é ele o último responsável pela 
formação. Esta repousa sobre o conselho local e a equipa, por este organizada. Falar em 
formação é tocar num assunto complexo e intrincado. Formar alguém para ser cristão e para a 
vida franciscana é tarefa que não dá descanso. Estamos sempre em processo de formação.
Nunca podemos descansar. A experiência diz-nos que uma das maiores dificuldades da OFS é,
entre nós, a de realizar  a formação sólida dos irmãos e das irmãs, de sorte que sejam leigos 
maduros, buscadores de santidade, capazes de construir a sua identidade franciscana ao longo 
do tempo e serem “restauradores” da Igreja. As poucas observações que aqui fazemos podem 
ser aplicadas à formação em geral,  bem como à que, mais particularmente, dá o Assistente.
Neste texto são apresentadas as  perspectivas da formação inicial juntamente com as da 
formação permanente.
2. A Regra da OFS diz-nos: na Fraternidade "os irmãos e as irmãs, impulsionados pelo Espírito para atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, empenham-se, pela profissão, a viver o Evangelho à maneira de Francisco e mediante a Regra" (cf. Regra 2). O número 1 da Regra fala dos franciscanos como aqueles “que se sentem chamados ao seguimento do Cristo, à maneira de São Francisco de Assis”. Esse é objetivo da OFS. Ressaltemos, aqui, alguns elementos: seguimento de Cristo, fraternidade com irmãos e irmãs, busca da santidade, vivência do Evangelho no estado secular mediante a Regra, ir pelo mundo em missão. Nessas poucas linhas aparecem alguns dos conteúdos da formação franciscana dos seculares.
3. Não podemos deixar de frisar que, como dizem os nossos documentos, a primeira formadora é a 
Fraternidade, ou seja, a vida da fraternidade. Um conselho responsável, cujos membros buscam a 
santidade, a simples presença do Assistente, as reuniões bem preparadas, sem “devocionalismos” nem sempre sadios, a certeza de que uns podem contar com os outros, o facto de se ver irmãos carregando os fardos uns dos outros: que melhor formação podemos pedir? Reuniões com equilíbrio entre oração, estudo e convivência, presença regular de todos, alegria dos encontros. Pouco adianta organizar cursos de formação quando, concretamente, a vida em Fraternidade deixa a desejar. O Assistente, quando necessário, exortará para que as reuniões gerais sejam de muito boa qualidade.
4. No caminho franciscano fala-se muito desse “seguir a Cristo”. Penso que o Assistente, de modo 
particular, pode ajudar os irmãos e as irmãs a colocarem os seus pés nos passos do Senhor. Quando um franciscano secular não entendeu, existencialmente, este seguimento do Senhor que leva à conversão, faltou alguma coisa de capital no seu itinerário espiritual. O conhecimento experimental do Cristo ressuscitado é fundamental. José Antonio Pagola, na apresentação de um livro que escreveu sobre Jesus, assim se exprimiu: “Em quem pensei ao escrever este livro? Antes de mais nada, tive em mente cristãos e cristãs que conheço de perto. Sei como se inflamará a sua fé e como desfrutarão do fato de serem crentes, se conhecerem melhor Jesus Cristo. Muitos deles, mulheres e homens bons, vivem da “epiderme da fé”, alimentando-se de um cristianismo convencional. Procuram segurança religiosa nas crenças e práticas que encontram ao seu alcance, mas não vivem uma relação feliz e prazerosa com Jesus Cristo. Ouviram falar d’Ele desde quando eram crianças, mas o que sabem dele não os seduz nem enamora. A sua vida se transformaria se se encontrassem com Jesus. Conheço bem a tentação de viver corretamente dentro da Igreja, sem nos preocuparmos com a única coisa que Jesus procurou: o reino de Deus e sua justiça. É preciso voltar às raízes, à primeira experiência que desencadeou tudo (...) Nada é mais importante para a Igreja do que conhecer, amar e seguir mais fielmente a Jesus Cristo” (Jesus. Aproximação histórica, Vozes, p. 26-27). O Assistente, com a sua formação teológica e o seu zelo espiritual, pode ajudar a acender esse fogo, sem o qual a Ordem marca passos. Os franciscanos seculares fazem uma promessa e uma experiência da Paixão de Cristo.
5. Não se pode esquecer: a primeira opção de um cristão é seguir Jesus. Essa decisão muda tudo. 
“É como começar a viver de maneira diferente a fé e a realidade de cada dia. Encontrar, por fim, o 
eixo, a verdade, a razão de viver, o caminho. Poder viver dando um conteúdo real à adesão a 
Jesus; crer no que Ele acreditou; viver o que Ele viveu; dar importância àquilo que Ele dava 
importância; interessar-se por aquilo que Ele se interessou; tratar as pessoas como Ele as tratou; 
olhar a vida como Ele a olhava; orar como Ele orou; transmitir esperança como Ele transmitia” (Pagola, p 569-570). Ora, esse trabalho de conversão é obra do Espírito Santo, mas está também 
colocado nas mãos de um Assistente atilado. Podemos avaliar como é prejudicial a uma Fraternidade não ter assistência ou uma assistência exercida ocasional e precariamente. Não seria essa a razão da existência de Fraternidades enfraquecidas?
6. Não podemos esquecer que vivemos em tempo de turbulência. Quando falamos em formação não temos apenas uma bagagem a transmitir como a lição de um livro, mas o encontro de pessoas que vivem no século XXI, com a grandeza do Evangelho que é perene, mas que precisa atingir histórias concretas. Tantas características delicadas: as pessoas precisam escolher a cada instante, não recebem herança feita, estão sempre escolhendo, precisam saber escolher; tudo é móvel, tudo é substituível, tudo é precário; somos centros de nós mesmos (escolhemos filmes, lojas, marido, mulher);somos anónimos no grande mundo; convivemos com pessoas de outras religiões, sem religião, até mesmo dentro da nossa casa; tudo tem que ser rápido, muito rápido; não queremos, não sabemos dar tempo ao tempo; vivemos no mundo do provisório. Por melhores que sejam os textos de estudo, eles devem passar pelo filtro de um formador inteligente, capaz de entender os sinais dos tempos e de ajudar os formandos a deixarem-se evangelizar no terreno movediço da cultura de hoje. Não se trata de aceitar as coisas como elas se apresentam. É precisamente nesta instabilidade que se constrói a identidade do franciscano secular, sobretudo com as cores de um laicado inserido no mundo, e desejoso também de contemplar na oração. O Assistente espiritual  é alguém que pode e deve ajudar  formadores e formandos a situarem-se nesse mundo do individualismo, da provisoriedade, da descartabilidade. 
Repito, as páginas dos nossos livros de formação e apostilas de cursos não conseguem fazer isso.
7. Pano de fundo de toda a formação, seja aquela realizada pela equipa formadora ou pela Assistência, é o de um  laicado maduro. A Ordem Franciscana Secular dará uma contribuição ímpar à Igreja na medida em que tiver membros conscientes da sua laicidade, não desejosos de cultivar apenas “devocionalismos” e alimentar emoções,  gente que sabe viver no mundo, com gente do mundo, na família, no casamento, na educação dos filhos,  nesses tempos de turbulência. Um laicado maduro não tem como primeira meta ser ministro da Palavra ou da Eucaristia (o que não significa que não possam assumir estas tarefas),  mas ser transformador da sociedade por posturas claras no campo da vida de todos os dias. É aquele que aprende a dinâmica do ver-julgar-agir. Enquanto os nossos percursos formativos não caminharem nesta direcção, teremos fraternidade que, talvez, na sua mentalidade, sejam anteriores ao Concilio do Vaticano II. O Assistente espiritual, nas reuniões do Conselho, nos encontros da Fraternidade, nos dias de estudo, terá condições de levar esse grupo de cristãos a um processo de maturação da laicidade franciscana. Este é um ponto de honra de toda boa formação.
8. Leigos no mundo, na Igreja, leigos franciscanos, quer dizer, gente que aprende a alegria de 
viver das coisas e nas coisas simples. Discípulos do Poverello adoptam um estilo de vida simples 
que se concretiza em todos os campos da sua acção e da sua vida: casa sem luxo, moderação 
no uso do dinheiro, distância de uma sociedade cruelmente consumista. Não basta apenas vestir 
uma camisa com estampas de Francisco e Clara, mas ter um fascínio pela simplicidade do 
Evangelho e pela pobreza do Filho de Deus. Leigos maduros que são capazes de conviver com o 
diferente, tanto no dia a dia da vida quanto no campo das religiões. Leigos maduros que criam 
zonas e áreas de proximidade com as pessoas, de fraternidade, num mundo marcado pelo 
individualismo. Não cabe ao Assistente ajudar os Conselhos e as Fraternidades a passarem nas 
provas de um laicado maduro?
9. Mundo da superficialidade, das coisas feitas com rapidez, sem profundidade.  Reuniões superficiais, liturgias banais, tudo sem densidade. Gente que repete credos e orações sem atinar para o que estão dizendo. Pessoas que pronunciam palavras religiosas mas que não conhecem o seu significado mais profundo. Cabe ao Assistente espiritual desenvolver todo um programa de compreensão do que vem a ser a verdadeira oração. Será preciso levar os irmãos ao deserto, a ouvirem a voz do Senhor, a 
descobrirem o lugar onde talvez as suas existências possam ser transfiguradas. O Assistente velará a que os retiros tenham profundidade, que as celebrações eucarísticas não sejam adaptadas aos gostos individuais, mas reflictam o tempo litúrgico, as leis mais simples da boa participação, consciente e densa. 
10. Parece importante que os nossos irmãos e irmãs adquiram ou readquiram o apreço pela 
celebração quotidiana da Eucaristia ou ao menos vivenciem em profundidade a missa do 
domingo. Cabe ao Assistente despertar nos irmãos o gosto pela  Eucaristia, sobretudo que os leigos se dêem conta da nobreza do sacerdócio comum dos fiéis e que façam  uma oferenda de si mesmos no 
decorrer do movimento da Eucaristia. Cantar quando se deve cantar e o que se de deve cantar. Calar e escutar. Escutar com as entranhas. Na Eucaristia fazemos de nós uma oferenda com Jesus que vem estar connosco no regime da fé, nas aparências do pão e do vinho.

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