segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Fraternidades a serviço das Paróquias

Nossas Fraternidades locais estão refletindo sobre o trabalho pastoral em paróquias, a partir de pedido do Departamento de Paróquias da Província. As linhas que se seguem não apresentam soluções, mas consiste numa reflexão de um frade sobre alguns aspectos da vida paroquial.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
• Nossa Provincia ainda está presente em muitas paróquias. Há frades que se dedicam de corpo, alma e coração ao trabalho “paroquial”, sabendo que a estrutura é pesada. Frades e sacerdotes bem preparados saberão fazer, apesar de todos os pesares, da paróquia um espaço de missão, de evangelização, de acolhimento. Mesmo sabendo que será preciso estar presente em outros espaços, a paróquia é ainda um ponto de referência. É lugar para santos e pecadores, gente letrada e pessoas sem cultura, crianças, jovens, casados, idosos… Não podemos, isto sim, concordar, que ela seja meramente um espaço burocrático, onde se realiza uma pastoral sacramentalista, sem alma, onde missas são celebradas por celebrar. Apesar de todos os pesares a paróquia, mesmo que tenha resquícios das coisas dos tempos rurais, é ainda uma referência na biografia de um cristão. Muitos movimentos dividem…
• Temos sempre de novo que nos voltar para uma mais densa compreensão da pastoral. Devemos escrever pastoral com p maiúsculo: Pastoral. Por detrás está a figura do Pastor bom, do Cristo vivo e ressuscitado. Ele atua antes de nós. Somos servos de sua ação. O padre é servo do bom Pastor. Não criamos a vida nova dele nas pessoas. Nós, frades, precisamos aprender a ler a ação do Cristo na vida de nossas paróquias e comunidades. Não inventamos, acompanhamos. Uma boa formação dos frades de Petrópolis tem que comportar o exercício de uma leitura pastoral teológica da realidade. Os frades, sacerdotes ou não, precisam ter gosto pela pastoral, ter conhecimento dos ramos e divisões desta disciplina teológica. Precisam ser acompanhados nos estágios em paróquias. Precisam, no tempo da teologia, ver que há confrades agindo pastoralmente com eficiência profunda e não apenas agitando pessoas, folhas e corpos. Que ideias de uma teologia pastoral têm nossos frades e nossos agentes de pastoral?
• Uma grande dificuldade é sempre a pastoral de conjunto, o trabalho dos párocos e padres junto com outros párocos e padres. Questão delicada é sempre a de uma Fraternidade Francisca que faz missão como Fraternidade, que age numa paróquia como Fraternidade verdadeira, menor e franciscana. Esse trabalho em comum é tarefa difícil. Não bastam alguns encontros entre os frades. É preciso sentir que só temos força quando agimos juntos, como menores e entusiasmados pelo Cristo que não é amado. Do contrário nossa ação franciscana não transparece. Somos funcionários do sagrado. Não temos significação alguma como franciscanos nas paróquias.
• No tocante ao Ministério da Palavra algumas observações:
• Haveremos de cuidar muito da homilia. Há lugares em que frades se reúnem às sextas-feiras para conversar sobre a homilia do domingo.Quando possível destacaremos a visão franciscana daquele dia. A homilia é momento de evangelização. Para muitos é, durante anos, o único contato com o Evangelho.
• Delicada a questão da maneira como se celebra. O que é participação? O que é participação do padre e do leigo? Como celebrar a missa, os sacramentos de tal forma que o Ressuscitado se torne presente? Que músicas ajudam? Como a liturgia pode ser um espaço de crescimento na fé?
• Não podemos não ter espaços de formação cristã, mesmo com poucos… semanal, quinzenalmente… grupos de reflexão, presença constante nestes espaços dos agentes de pastoral… formação, conversas , método ver-julgar-agir. Conversar juntos. Decidir juntos. Rezar juntos. Ter um cuidado especialíssimo com os mais próximos para que eles saibam evangelizar e se deixem evangelizar. Nossas paróquias, mesmo com dificuldades, serão lugares onde ao menos padres, frades e agentes de pastoral se encontram e têm a alegria de se encontrar.
• Temos, custe o que custar, de ter jovens circulando entre nós. Não seria o caso de sentarmos juntos e ver que tipo de grupo de jovens franciscanos poderíamos organizar? Há frades que estão gostando da JUFRA… Será que não há outro caminho?
6. Quanto ao ministério da liturgia:
• A missa é a renovação e atualização do mistério pascal. Comentários, intenções e tudo o mais deve ser centrado neste aspecto. Não dá para ler os “sermões” de tantos folhetos, essas introduções longas e sem sal. Especial atenção merecem as equipes de liturgia e dos ministros extraordinários da Eucaristia. Não se trata de apenas saberem se deslocar de um lado para o outro no espaço celebrativo, mas de terem um espiritualidade eucarística, de terem consciência de servirem ao mistério pascal.
• Aspecto delicado: ainda estamos distribuindo os sacramentos sem que as pessoas, de fato, estejam num processo de conversão. Uma séria revisão de nossos ditos “cursos” precisa ser feita, um modo mais simples e mais verdadeiro de celebrar batismo e casamento. Descobrir meios e modos de fazer com que as pessoas não esqueçam que estamos sempre em estado de conversão, somos santos, mas pecadores e precisamos voltar também para o sacramento da confissão. Que formas de celebração dos sacramentos estamos adotando? Por elas evangelizamos, ou sacramentalizamos…
• Há missas celebradas durante a semana que podem ser ocasião de crescimento muito grande, ao menos de alguns fiéis. Vemos certas pessoas se apresentarem diante do altar com um rosto de famintos. Parece importante que nós, frades, concelebremos. Muitas casas têm frades sacerdotes que não são escalados para missas todos os dias e nem mesmo aos domingos. A concelebração é uma práxis a ser instituída como sinal visível de que somos unidos, somos irmãos juntos.
7. No tocante ao ministério da caridade:
• Todos nos lembramos das paróquias de nossa infância e das obras ditas assistenciais. Não é aqui o lugar de entrar em pormenores. Muitas paróquias se orgulham, e com razão, de oferecer a todos os seus membros ocasião de práticas de amor fraterno: famílias pobres que recebem alimento, doentes são atendidos, presos visitados. O Sefras vai se implantando e permitindo que nossas comunidades compreendam, de maneira, mais adequada o que vem a ser um cuidado pelos irmãos que vai além de um mero assistencialismo. Isto não impede que pessoas continuem fazendo vestidos para os carentes, enxovais para bebês, atendimento médico em algum canto da paróquia. Por que não?
• Um trabalho evangelizador e caritativo (as duas coisas não se excluem) será feito junto das famílias despedaças, destroçadas, miseráveis em todos os sentidos.
8. No que se refere ao ministério pastoral:
• Não se pode contentar com a existência, em certos lugares, de uma centralização na sede, centralização, aliás, burocratica. Há muitas de nossas paróquias que contam com viçosas comunidades no meio da gente, nas ruas mais sujas, nos lugares mais distantes. Devemos multiplicar comunidades de base, círculos bíblicos, encontros de células nos apartamentos, catequese e vida cristã em grupos menores. Isso precisa ser feito. As Igrejas evangélicas progridem em cima de nossa inépcia. Quando temos lideranças dedicadas, locais a vida cristão progride. E nesse sentido a paróquia pode, repito, pode ser sacramento de unidade.
• Vivemos, sim, o tempo da subjetividade. Parece normal que nossas casas e paróquias sejam espaços de atendimento personalizado. Não se trata de voltar ao tempo da direção espiritual, nem apenas de um acompanhamento psicoterápico. Embora, em alguns casos este ultimo seja fundamental. Há perplexidades, jovens que precisam ser ajudados a pensar em seu amanhã, famílias que se despedaçam…. acompanhamento que não é paternalismo, mas ajuda no discernimento. Infelizmente nem sempre as pessoas nos procuram. É preciso ir ao encontro delas.
9. No que se refere ao tema da missão como fraternidade em espírito de oração e devoção:
• Há Fraternidades franciscanas de frades singelos, bons, amigos e acolhedores. Quando deixam uma determinada casa, fazem falta. Nunca, nunca, nunca é demais repetir: evangelizamos quando agimos juntos e nos estimamos, mais do que nos toleramos. Cada paróquia é cada paróquia. Mas em todas as paróquias franciscanas haverá essa certeza de ser espaço de vivência da fraternidade, simplicidade e cortesia. Somos pessoas profundamente respeitosas e acolhedoras, sem com isso fazer média com o medíocre e o erro.
• Párocos franciscanos e assistentes e conselhos da OFS e da JUFRA não podem viver sem conviver. A OFS não é um departamento paroquial. Seus membros pertencem a diferentes paróquias. Mas não tem sentido a existência de uma Fraternidade divorciada da paróquia. Os franciscanos seculares são (ou deveriam ser) cristãos maduros que ajudam uma comunidade paroquial a acertar os passos. A falta de apoio dos frades aos franciscanos seculares não é bom sintoma. Como também não se concebe um grupo que se reúne nas dependências da comunidade franciscana sentindo-se dela desvinculado e nem buscando assistência.

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